Na visão de Eduardo Gross, da INNA, o pais é uma referência com a qual o Brasil pode aprender
Vivemos um momento mundial sem precedentes, ao menos em nossa história recente. Com a pandemia da Covid-19 nos demos conta do quanto somos seres frágeis.Por outro lado, percebemos o quanto estamos avançando – o quanto a evolução tecnológica está permitindo nos adaptar ao novo normal. Com o isolamento social, estamos nos tornando seres mais conscientes e preparados para ressignificar o nosso futuro, buscando no esforço coletivo alternativas para reaquecer a economia e seguir em frente.
Para as próximas gerações, ficará a lembrança e os ensinamentos desse relevante episódio da vida humana que está consolidando a era da Transformação Digital. Em meio ao cenário de tantas incertezas, a nova dinâmica do mercado, que nos trouxe mudanças disruptivas e aceleradas, tem proporcionado uma série de desafios e dificuldades e, por outro lado, oportunidades e possibilidades. E quase todos os holofotes apontam para o principal protagonista desta história: o processo de inovação. Em Israel, há décadas, a Inovação foi a solução para superar barreiras e provar que é possível triunfar, apesar de cenários adversos. Inúmeros são os recursos que contribuíram para que esse pequeno país com quase 60% de área desértica, cercado de conflitos geopolíticos, seja reconhecido como a Startup Nation.
Israel é um país de dimensão territorial muito pequena se comparado com o Brasil – seus aproximados 22 mi quilômetros quadrados de extensão se equiparam ao Sergipe. É um país jovem com apenas 72 anos de independência, que concentra umapopulação de 9 milhões dehabitantes e um ecossistema de inovação com mais de 7 mil startups – a maior concentração empreendedora do mundo. Sua população é constituída na grande maioria de imigrantes, que vieram de culturas e estilos de vida diferentes. Eles carregaram em sua bagagem um acervo imensurável de conhecimento baseado na experiência milenar de um povo que superou inúmeras adversidades e sobreviveu até os dias de hoje.
Ao lembrar o passado, o povo de Israel, também conhecido como povo do livro, converteu a sua história na maior referência de storytelling da vida humana, um acervo rico em ensinamentos que vêm sendo transmitidos e ressignificados de geração para geração, servindo de combustível para fortalecer os princípios, os valores e a identidade para encarar os desafios que batem à porta.
Esse país formado por imigrantes que vieram de diversas partes do mundo desenvolveu uma forte cultura empreendedora, com uma força de trabalho madura e qualificada, capaz de converter adversidades em soluções disruptivas, constituindo um mosaico humano fascinante que conecta tradição, diversidade e inovação, traços que definem competências do mindset Israelense para Inovação. Israel deu o primeiro passo para alcançar o patamar que se encontra hoje ao criar conexões sólidas entre governo, setor produtivo, startups, empresas de base tecnológica, investidores e a academia, tornando-se um benchmark de inovação para o mundo.
O serviço do Exército em Israel é obrigatório para homens e mulheres. É uma escola de empreendedorismo onde aprendem a liderar, a lidar com responsabilidades, tomar decisões com senso de urgência, ter flexibilidade, questionar hierarquia e a trabalhar em grupo – além do primeiro contato com a tecnologia de ponta. Principalmente aqueles selecionados para compor os chamados times de elite, ao saírem do Exército, já possuem experiência nesse mercado, antes mesmo de ingressar na universidade.
A educação do país é voltada para cursos técnicos que englobam o high tech, o desenvolvimento de softwares e, principalmente, a pesquisa aplicada. As universidades estão conectadas com o mundo da inovação, startups e tecnologias. As patentes são registradas e repassadas aos alunos para que iniciem startups com sua chancela e reputação. Além de investir 5% do PIB em Pesquisa & Desenvolvimento, o governo de Israel tem aportado recursos em estratégias para garantir a sustentabilidade e a prosperidade econômica de seus processos de inovação. Eles valorizam as falhas e as reconhecem como parte do processo de desenvolvimento.
Em Israel, a combinação entre exército como um polo inovador, formação de pessoas voltadas à pesquisa e tecnologia e políticas públicas direcionadas ao fomento, gera o combustível que impulsiona os negócios e que possibilitou a estruturação de um país em um pouco mais de sete décadas. O mindset israelense é decisivo para o sucesso do país. E uma referência com a qual o Brasil pode aprender para se tornar um país sólido e confiante. Como alguns fatores externos que compõe nosso ecossistema empreendedor são imutáveis, copiar o que é feito em Israel não é a estratégia correta, mas sim compreender o que eles fazem e adaptar as melhores práticas para o cenário brasileiro.
O Brasil tem despontado como um dos gigantes globais no fornecimento de alimentos para o mundo. Inúmeros são os rumos da economia brasileira que apontam para a intensificação da atividade com a exploração de seus recursos naturais, aliada com inovações tecnológicas estratégicas para elevar a produtividade e a competitividade. Apesar das incertezas e da forte resistência, o país está avançando a passos curtos. O mercado brasileiro tem se mostrado aberto às inovações disruptivas trazidas por startups das mais diferentes áreas de atuação. Essa tendência tem aberto espaço para o desenvolvimento de fintechs, agritechs, healthtechs, edtechs, dentre outras, que têm muito a ganhar ao se conectarem com o ecossistema de inovação israelense.
O Brasil é um país de dimensão continental. Da mesma forma que Israel, a diversidade está presente no país, tanto étnica quanto culturalmente. A diferença se encontra na distribuição territorial dessa diversidade. Enquanto lá a concentração estimula a sua cooperação e sinergia, no Brasil a distribuição provoca desigualdade socioeconômica e competição no mercado interno, fragilizando a sua integridade e sua relação de confiança com o exterior.
O momento é oportuno, pois precisamos enfrentar essa crise cultural. Imagine se a intensidade com que solucionamos os problemas da pandemia fosse a mesma que resolvêssemos os problemas latentes de educação, política e saúde. O resultado, com certeza, seria um desenvolvimento tão rápido e de qualidade quanto o de Israel. Está na hora de mudar essa história! Precisamos aprender com o passado, cooperar no presente e confiar no futuro.
*consultor especialista em gestão de mudança e inovação. Head de novos negócios na INNA ImCTM (Agência de Inovação Israelense), entidade que apoia a realização do ITK 2020, promovido pela Softsul